Querido Cuzão,
No dia de hoje, aguardo muitas surpresas vindas de fora. Pois, que surpresas iriam brotar na casa de um aposentado, a não ser a mudança de algum medicamento?
Querido Diário, digo, Cuzão,
Esta semana, que se inicia hoje, está bem cheia de compromissos. Segunda, terça e quarta-feira estarei organizando minha gaveta de meias e cuecas. Na quinta-feira, farei o "bota-fora" das minhas carteiras de estudante do tempo de Marista. E, no restante da semana, estarei assistindo a um curso de como dobrar camisas de mangas longas.
Estou ansioso para que chegue logo a segunda-feira.
Estimado Cuzão,
Hoje acordei cheio de planos. Queria comer uns camarões na praia, pé na areia, cerveja gelada e descanso.
Olhei meu saldo… vesti o pijama novamente e voltei pra cama, esperando que chegue logo a segunda-feira.
Querido Diário — digo, Querido Cuzão,
Chegou o final de semana, junto com aquele tempo livre pra descansar sem nada pra fazer — o que, pra mim, não influi nem contribui em absolutamente nada, já sou aposentado. E aposentado legítimo, daqueles que foram "descuidadamente assaltados".
Para hoje, tenho disponibilidade full time — o que me deixa em uma dúvida titânica, pois não sei se fico na rede, no sofá ou na minha poltrona preferida. Dilemas de um homem moderno, derrotado apenas pela própria liberdade.
Prezado Cuzão,
Pelo começo você já deve ter percebido que minha saudação matinal não será mais — "Querido Diário" —, mas sim essa carinhosa e fraterna maneira de tratar um amigo nos dias atuais.
Quanto às minhas atividades de hoje, tudo continua como dantes no quartel de Abrantes... ou seja: tempo disponível para coçar qualquer parte do corpo, inclusive essa que você está pensando. Ah, quase ia esquecendo: minha ida ontem à padaria foi um sucesso — uma experiência magnífica, cheia de aprendizados que guardarei para sempre.