Prezado Cuzão,
Pelo começo você já deve ter percebido que minha saudação matinal não será mais — "Querido Diário" —, mas sim essa carinhosa e fraterna maneira de tratar um amigo nos dias atuais.
Quanto às minhas atividades de hoje, tudo continua como dantes no quartel de Abrantes... ou seja: tempo disponível para coçar qualquer parte do corpo, inclusive essa que você está pensando. Ah, quase ia esquecendo: minha ida ontem à padaria foi um sucesso — uma experiência magnífica, cheia de aprendizados que guardarei para sempre.
Querido Diário,
Tenho pensado na nossa amizade e acho que está na hora de mudar a forma como te chamo. Esse “Querido Diário” já está meio infantil — e, convenhamos, até um pouco suspeito. Estou considerando algo mais atual, tipo “Querido Parça” ou, quem sabe, “Prezado Cuzão”. Tudo depende da vibe.
Hoje o dia promete ser puxado. À tarde terei de ir à padaria — e isso já ocupa uma boa parte da minha disposição. Amanhã, se surgir uma brecha na minha agenda, prometo escolher teu novo nome.
Querido Diário,
Hoje será um dia especial. Vou escrever uma crônica sobre uma visita verídica a um pé de jabuticaba, graças a Deus, acompanhada por minha querida avó materna, minha mãe e minha irmã.
Querido Diário,
Ainda bem que temos nos dado bem. Hoje acordei com a agenda lotada de... nada para fazer. Aliás, tem sido assim desde que me aposentei — uma tranquilidade que, às vezes, beira o tédio.
Para não cair no completo ócio, resolvi me ocupar: de manhã, me matriculei num curso de línguas mortas e semi desaparecidas (vai que no além eu precise). À tarde, dedico-me à gaita de fole — com direito a saiote e bolas balançando.
Oi, gente.
Nunca pensei que chegaria a essa idade e estaria escrevendo em um diário. Mas vamos começar do jeito certo.
Querido Diário
Espero que sejamos bons amigos — e, se não formos, que você vá pra puta que te pariu.