Caro privilegiado e único conhecedor do bom humor da vida, vou te deixar a par das minhas últimas decisões. Quando o amigo terminar de lavar a louça, sente-se na sua cadeira preferida, tire as Havaianas e coloque os pés no chão, porque vai começar uma confissão de deixar o Papa Leão comendo papa... e pelas beiradas.
Estava pensando em seguir minha vida com mais tranquilidade — até falei aqui em comprar um dominó e ir jogar na praça com algum amigo. Porém, mudei de ideia e cheguei à conclusão de que algo mais radical combina mais com o meu jeito de ser. Afinal, já fui industrial e comerciante — quer algo mais radical do que isso aqui no Brasil?
Então pensei em começar fazendo rapel indoor, antes de me aventurar em cavernas, paredões e prédios. Isso mesmo: de repente, me veio uma vontade imensa de ficar subindo pelas paredes igual a lagartixa, me apoiando em saliências e tendo como garantia de sobrevivência a força dos braços de Toninho, o nosso instrutor e segurador de corda.
O amigo pode até falar: “Mas, Luciano, isso é fichinha. Minha filha, de oito anos, faz isso na creche.” E eu acredito perfeitamente. Mas manda ela fazer isso aos 65 anos! Com esse tempo de vida, subir um meio-fio já é um desafio olímpico — imagine se soubesse que o rapel é apenas o início de algo maior. Um sonho que vem desde que o Brasil foi campeão mundial no Chile: conquistar o Everest.
Já imaginou as notícias?
— “Velho maluco do blog ‘Ou Vai ou a Cerca Cai’ conquista o Everest.”
Ou então:
— “Luciano conquista o Everest, mas não a picanha.”
Como essa vontade aflorou ontem por volta das três da manhã — exatamente na hora do meu xixi — ainda não tracei os planos. Contudo, já está praticamente acertado que minha fase de adaptação ao clima e à altitude se dará em Garanhuns.
Desde que acordei, tenho pesquisado na Shopee equipamentos para escalada e roupas apropriadas, e confesso que já iniciei meu enxoval da libertação com um lindo gorro.
Com certeza, você deve estar se perguntando: “E sua mulher, o que achou da ideia?”
Bem, ela queria que eu investisse o valor do gorro em três panos de prato e começasse a pagar um plano de saúde que cobrisse tratamento psicológico, com direito a camisa de força e internação. Eu falei que, quando voltasse do Himalaia, trataria desse assunto.
Bem, amigos, agora vou ter que sair. Preciso vender meu carro. Vi uma tenda cor de laranja, linda — e já acompanha um ventilador portátil.