Chegou o final de semana, junto com aquele tempo livre pra descansar sem nada pra fazer — o que, pra mim, não muda absolutamente nada. Já sou aposentado. E aposentado legítimo, daqueles que foram “descuidadamente assaltados”.
Neste final de semana, estou disponível full time — o que me coloca diante de uma dúvida titânica: fico na rede, no sofá ou na minha poltrona preferida? Dilemas de um homem moderno, derrotado pela própria liberdade e pelos proventos contados. Mas já me acostumei a passar esses dias vagando pelo mais absoluto vazio de lazer — ou mesmo de qualquer tarefa.
Já não me vejo mais aproveitando a night. Quando a gente chega a essa idade, a noite é pra dormir, roncar, tossir e, inevitavelmente, soltar aquele peido solitário. Sair de casa pra ir a um barzinho com música ao vivo simplesmente horrorosa, cerveja servida em copo americano e tira-gosto sem gosto? Não, obrigado. Prefiro minha casa, minhas músicas, minha Heineken ou Stella supergelada, petiscos que eu mesmo preparo — ou uma generosa porção de gorgonzola, reino, parmesão e gouda (pra cortar o sal). Banheiro limpo, sem fila e sem rastro de urina da porta até o vaso.
A velhice traz não só comodidade, mas também sabedoria nas escolhas. Baladas, micaretas e shows? Fui a muitos, no seu devido tempo. Hoje em dia, com certeza sairia de lá surdo, pisoteado e com uma bela mancha de urina na bermuda. Graças ao meu sistema de ridículo instalado desde o nascimento, tudo que não existia quando o homem pisou na Lua não me pertence mais — com as nobres exceções da minha mulher, meus familiares, minha smart TV e o seu controle remoto.
Lembram, meus amigos leitores, de quantos planos fazíamos pra uma simples noitada? E você, amiga leitora, que precisava praticamente montar um enxoval pra ir à danceteria? Pois é. Aquela mesma princesa, hoje deve estar de roupa confortável e pantufas, lendo um livro ou brincando com o netinho Enzo, enquanto o seu príncipe encantado — aquele que te conheceu num carnaval, fantasiado de anjo — agora pula de canal em canal no YouTube, esperando a hora da sopinha dele... e do Enzo.