Meu estimado leitor, você já reparou como estamos caminhando para algo surreal? Como qualquer ser — vivo ou inanimado — pode ser arrastado para as intrigas da política, ou até mesmo da guerra?
Vimos, há algum tempo, uma pobre mesa e uma cerveja serem carregadas, compulsoriamente, e inseridas no centro de um conflito, como peça-chave apaziguadora para pôr fim a uma sangrenta disputa. Esse simplório instrumento de paz, disponível a qualquer um, me passou despercebido. Se tivesse me dado conta, teria usado essa ferramenta para resolver uma desavença com meu vizinho do andar de cima.
Porém, não sei se esse procedimento tem o mesmo efeito substituindo a cerveja por um refrigerante ou suco. Vai que ele não beba... como ficamos?
Agora, foi introduzida nas negociações de conflito uma nova artimanha à qual não há como resistir: a jabuticaba. Exatamente isso. Essa fruta cem por cento nacional terá um poder persuasivo maior do que nossos tanques e aviões — afinal, ela não precisa de combustível.
Pois bem, anos atrás, minha avó materna — que adorava um passeio — chamou minha mãe, minha irmã e a mim para irmos ao sítio de seu motorista conhecer um pé dessa maravilhosa fruta. Partimos com muita curiosidade (e algumas vasilhas) rumo ao sítio, localizado aqui perto de Natal. Naquela época, a jabuticaba não tinha garoto-propaganda, nem habitava palácios. Era uma árvore frutífera raiz, porém extremamente esperta: “Suba no meu tronco e esmagarás os frutos” — deve ser o seu lema.
Foi uma manhã maravilhosa. Comemos a fruta direto do pé e ainda trouxemos uma boa quantidade para casa. Infelizmente, não tínhamos o costume de registrar nada. Na época, uma foto demorava tanto para ser revelada que a gente esquecia onde, quando e quem era aquela imagem.
Contudo, se eu soubesse que, no futuro, essa pequena e gostosa fruta seria elevada ao patamar de mediadora diplomática do Brasil, não só teria registrado tudo, como também teria feito, em seu caule, meu pedido de emprego no Itamaraty — acompanhado de um conselho: “Diga-me com quem andas, e eu direi quem és...” Pobre jabuticaba!