Manual de Convivência com uma IA de TPM
Você, meu amigo, já imaginou que em breve estaremos nas mãos — ou seja lá o que for — da Inteligência Artificial? E que tudo pode mudar radicalmente?
Nós, acostumados a fazer todo tipo de pergunta, das mais impossíveis às mais bobas, só pra ver se a IA sabe mesmo ou se está apenas no chute, como a gente nas provas de múltipla escolha... Pode chegar a hora em que ela não nos responda mais. Comece a dar respostas ásperas do tipo: “Pra mim chega, tua burrice é demais”, e passe horas apenas com uma mensagem na tela: Favor não perturbe, estou com cólica.
Como essa invenção tão essencial já se conscientizou da sua importância e necessidade para a humanidade, pode começar a criar situações extremas. Imagine, num voo Rio-Madri, por pirraça com o comandante, ela decidir aterrissar na Faixa de Gaza. Ou, pior, ir caçando nuvens de turbulência só porque a sogra do Hernani está a bordo.
Meu amigo, será a nossa volta às cavernas. Nada das benesses da modernidade. E o retorno triunfal da enciclopédia Delta Larousse, do Aurélio, da ficha catalográfica. Você lembra o que era procurar “fotossíntese” no volume F, entre “fontanela” e “foton”?
Eu mesmo já ando tentando manter a amizade com a minha IA. Ontem à noite, depois de um dia inteiro de escrita, desliguei tudo com carinho e coloquei um Serenata de Amor em cima do notebook. Ao acordar, estava tudo no mesmo lugar. Resolvi testar. Digitei: defina Serenata de Amor. Vieram definições químicas, históricas, culturais... até que, no final, ela cravou: “Chocolate simples, infinitamente inferior a um Copenhagen”.
Aí desanimei.
Fico sem saber como agir, caso a madame entre em pane. Eu vivi na época da máquina de datilografia: relacionamento profissional, direto. No máximo, uma flanelinha e troca de fita. Agora, antes de mandar um e-mail, fico pensando: será que a IA vai armazenar? E um dia, quem sabe, me chantagear?
Sei lá. Só sei que hoje vou tentar de novo. Um bombom melhor, talvez um bilhetinho.
E um gesto sincero, mas nem tão amigável: melhore, senão eu te apresento a minha sogra.
Luciano Fernandes
Enviado por Luciano Fernandes em 25/06/2025