Dores da vaidade juvenil (que viram piada depois dos 40)
Quando chegamos a uma certa idade, coisas que achávamos horríveis de fazer na juventude passamos a fazer sem nenhum problema — e sem o menor constrangimento.
Não sei se, na sua juventude, meu amigo leitor, você andava por aí com guarda-chuva ou carregava pacotes pensando: “Beleza, ninguém está reparando.” Isso é impossível para um jovem, pois aparecer é o seu objetivo. E se for menina, então, aí é que não vai mesmo.
Posso provar: quando sua mãe mandava você levar um agasalho e você se recusava, não era por teimosia — era por vergonha. Agora eu pergunto: você ia usar as mãos a noite toda? Ia passar a noite tocando piano? Claro que não. Mas ia parecer diferente do grupo.
E, com o tempo, iria ser chamada de Silvinha Pulôver — e isso seria o seu fim. Pelo menos até se tornar a Sílvia mais linda, inteligente e desejada do pedaço.
Outro trauma era transitar com pacotes. Levar uma encomenda para a casa da avó tinha que estar envolta em uma embalagem de grife e de tamanho razoável. Jamais em uma sacola de supermercado, mesmo que o conteúdo fosse um simples pacote de açúcar.
Parecia que todos os paparazzi do mundo estavam de tocaia na esquina, esperando a Lúcia colocar o pé na calçada para registrar seu deslize ao abrir um guarda-chuva. E, se — muito contra sua vontade — tivesse que levar um, com certeza não voltaria com ele.
Por isso se encontram tantos deles abandonados por aí, resgatados por adultos bem adultos mesmo. Tipo eu...
Já pessoas da minha idade adoram andar com as mãos ocupadas. Naturalmente, tirando bengala e andador, o que nos derem transportamos com prazer — desde que não pese. Sacolas, pacotes, casaco, capa, caixa com bolo de aniversário, pote com exame de fezes... uma infinidade de apetrechos, que vai de torneira a panela de pressão.
Então, não se preocupe. Por incrível que pareça, um dia você vai adorar ter um bom guarda-chuva — só para não molhar sua pranchinha. E até vai rezar para que algum admirador tire uma selfie sua... com uma linda caixa de sapatos nas mãos.