Ou Vai Ou a Cerca Cai: Crônicas com Humor
Textos que derrubam cercas e arrancam risos e reflexões.
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Textos
Quando me Achava um Mozart Luciano — ou Luciano Da Vinci
Todo mundo tem seus sonhos e eu, amigo leitor, não sou diferente. Então, vá para sua poltrona preferida para ficar sabendo de mais uma passagem da minha vida.

É normal toda criança querer ser um jogador de futebol — claro que de um milionário time da Europa, e não de um timinho de terceira divisão do nosso futebol. A título de informação, o sonho do meu filho mais novo era usar gravata. Sim, isso mesmo: queria um emprego que usasse gravata. Resultado — hoje é advogado.

Da minha parte, nunca fiz muitos planos para o futuro. Porém, quando ele foi chegando, comecei a pôr em prática todos os desejos. E comecei pelo teclado:

— Vou aprender a tocar teclado! — decretei.

Já de posse do instrumento adequado a um futuro tecladista de renome, me matriculei em uma aula. Cercado de crianças e jovens adolescentes, lá estava eu, com uns 37 anos, pronto para dominar o ambiente.

Nas primeiras aulas, já fui repreendido, pois as músicas que me eram passadas como “dever de casa” eu apresentava no ritmo que mais me agradava. Por exemplo: uma valsa do tipo La Comparsita, eu apresentava em ritmo de salsa ou merengue — e ainda com uma pequena, porém discreta, coreografia.

Na turma, as crianças já me aplaudiam pela performance. Entretanto, para a professora, era uma falha tremenda.

Já nas proximidades do fim do ano, tive a notícia que me fez desistir do teclado. A professora nos avisou que haveria uma apresentação de fim de ano no Teatro Alberto Maranhão. A vergonha de me apresentar ao público cercado de crianças, tocando rumba com coreografia, foi mais forte — e parei com as aulas.

Você pode me perguntar: e o teclado? Vendi. E hoje ele integra um conjunto musical em uma igreja da Universal.

Não demorou muito e cheguei com outra ideia: vou pintar quadros. Isso mesmo. Sob sorrisos da família, saí à procura de material e voltei com o pouco que o dinheiro deu para comprar: uma pequena tela, umas seis cores de tinta e dois pincéis. Pensei comigo: "Garanto que o Leonardo pode até ter mais material, mas dessa qualidade, duvido muito!" Pelo preço que paguei, garanto que o Leo (já me sentindo colega de profissão) não poderia arcar com um investimento de tal magnitude.

Então, passei a pôr na tela todo o meu talento. Era um talento mutável, pois na saída para o trabalho minha mulher elogiava a minha obra de arte, porém, na volta, ela se admirava de como tudo tinha mudado. Comecei a atacar tinta sobre tinta. A tela, que era algo leve e delicado, foi ganhando ares de argamassa e já não tinha mais lado certo. Tanto fazia colocar de ponta-cabeça ou não — era aquela linda mancha.

Pelo preço dos materiais, eu não podia comprar várias telas e exportar todo o meu talento artístico. Então eu ia retocando constantemente o meu “trabalho”. Até que chegou o dia em que eu mesmo me convenci de que não tinha jeito para esse tipo de arte.

Agora, meu amigo, o resultado é impressionante — e verídico. Tendo dado por encerrada minha fase de Da Vinci, joguei no lixo minha inconfundível “obra-prima”. Passados alguns dias, fui fazer minha caminhada e, ao passar em frente a uma casa, lá estava ela: ornamentando a sala de uma humilde residência — a minha obra de arte!

Comuniquei a todos da família que havia encontrado um admirador dos meus dotes artísticos e que agora partiria para a marcenaria — decisão que foi completamente rejeitada. Como compensação, me sugeriram escrever crônicas. Por isso, caro amigo, não me leve a mal se tomo o seu tempo aqui. Mas, se quiser, pode encomendar uma tela que eu te mando pelo Sedex.
Luciano Fernandes
Enviado por Luciano Fernandes em 13/06/2025
Alterado em 16/06/2025
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