Ou Vai Ou a Cerca Cai: Crônicas com Humor
Textos que derrubam cercas e arrancam risos e reflexões.
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Textos
Ela queria um presente inesquecível. Ele pensou em pão de queijo — mas entregou o coração
E vem aí mais um Dia dos Namorados. Essa data alegre para muitos e penosa para tantos outros é recebida pelo comércio com mais entusiasmo do que o namorado que presenteia com uma caixa de chocolate e recebe uma Lacoste — legítima.

Fica atrás apenas do Natal, afinal, é o nascimento do Homem e também a época em que Simone ressurge nas rádios com o tradicional (e cansativo) “então é Natal…”. Depois, por medo ou gratidão, vem o Dia das Mães, quando ela sonha com uma viagem à Disney e ganha uma batedeira de última geração.

Mas o Dia dos Namorados é especial. E, mais do que isso, é vivido de forma muito distinta entre o casal.

Enquanto ela planeja o presente com meses de antecedência, ele resolve na noite anterior, já deitado, com o celular quase caindo do rosto.

Ela quer algo marcante, exclusivo, que mostre planejamento, tempo, dedicação — e não necessariamente dinheiro. Talvez um álbum com “nossos melhores momentos”, decorado com corações e borrifadas de lavanda em cada página. O papel do primeiro bombom recebido, cuidadosamente colado e com data, hora, local da “exuberante surpresa”, e o comentário dela ao lado: “fiquei bege!”

Naturalmente, ela não se dá por satisfeita. Aproveita a oportunidade para presenteá-lo com uma linda camisa da Brooksfield — essa sim custou os olhos da cara, mas, segundo ela, “ele merece”. Com a inteligência e sagacidade inerente ao sexo feminino, ela aproveita o presente para mostrar a ele que camisa de time de futebol não é adequada para acompanhar uma garota de gosto refinado. Tudo cuidadosamente colocado em uma caixa maravilhosa, acompanhada de um cartão capaz de fazer qualquer princesa se emocionar.

Já ele, querido leitor… só se toca que tem que comprar o presente dois dias antes. E, em sua mente distorcida, pensa logo em uma lingerie bem sexy — dessas transparentes e com aroma de pão de queijo, seu lanche favorito.

Ao conferir o preço daquela obra de arte, desiste. “Com esse valor eu compro um quilo de picanha!”, pensa. No trabalho, as colegas tentam ajudar.
“Flores. Toda mulher gosta de flores”, sugere Amanda.
“Um perfume gostoso”, opina Renato.
“Um pacote de café”, brinca o chefe do RH.
E assim, as sugestões vão virando piada até alguém sugerir uma camisa do Vasco— aí é o fim.

Desesperado e sem rumo, olha o saldo da conta e só lhe resta um empréstimo desses rápidos, que você faz no caixa eletrônico e sai com a leve sensação de ter sido assaltado.

O valor era pouco, mas foi o suficiente. Comprou uma linda caixa, improvisou um álbum meio torto com os melhores momentos dos dois, colou o papel do bombom que dividiram no shopping e escreveu, com a caneta azul que achou no carro:

“Segue também meu coração, que agora e sempre será seu.”
Luciano Fernandes
Enviado por Luciano Fernandes em 03/06/2025
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