Tudo Bem: A Expressão Que Diz Tudo Sem Dizer Nada
Meu amigo, veja se você me dá razão — mas, antes, acomode-se confortavelmente, pois preciso do seu apoio.
Dentre as muitas palavras que formam frases, a que mais me desperta atenção — por sua genialidade — é o famoso tudo bem. Rápido, fácil e prático.
Você já imaginou se, a cada pergunta de “como vai?”, tivéssemos que responder tintim por tintim? Quanto tempo gastaríamos formulando uma frase que, com apenas duas palavras, é capaz de calar qualquer tipo de pessoa — do seu chefe, passando por sua sogra, até aquele vizinho insuportável?
Quem juntou essa expressão pela primeira vez deve estar no céu, condecorado por facilitar o relacionamento entre os povos. Você pode estar em frangalhos, arrasado… porém, se não quiser desabafar, basta dizer as duas palavrinhas mágicas: tudo bem.
Essa pequena — porém decisiva — expressão não ocupa espaço em pessoas de baixa energia. E repare: nos noticiários, nunca veremos um âncora pronunciá-la se não estiver ligada a coisas boas (ou quase):
“Tudo bem com o aposentado que foi roubado.”
A corrupção voltou ao governo — mas tudo bem, voltou só um pouquinho.
O primeiro-ministro faleceu. Tudo bem, antes ele do que eu.
O tudo bem também pode ser usado como um aviso de que algo tem grandes chances de dar errado:
— Tudo bem, eu vou lá. Mas se der merda, a culpa é sua.
Serve como apaziguador:
— Está certo que você está acima do peso, mas tudo bem, eu também estou.
Essas duas palavrinhas são como o coringa no baralho, o xeque-mate no xadrez e o ahan da minha mulher: definitivos.
— Então é assim? Tudo bem!
Ele é tão versátil que pode dizer o que diz… sem exatamente dizer. Entendeu? Tudo bem.
E ainda tem mais: o tudo bem também funciona como desculpa embalada para presente — quase sempre depois de uma gafe ou situação constrangedora.
Na hora do sexo, por exemplo:
— Desculpe, isso nunca aconteceu comigo.
— Tudo bem.
É o tipo de resposta que não perdoa, mas também não condena. Apenas encerra o assunto com um suspiro invisível — o famoso “deixa pra lá”.
A junção dessas duas palavras só pode ter sido ideia de um homem — disso, meu caro leitor, eu não tenho dúvidas.
Porque, se o tudo bem tivesse sido inventado por uma mulher, até hoje estaria em fase de acabamento — na dúvida se apenas duas palavrinhas seriam suficientes para causar um efeito digno de selfie.
Ele tem um irmão, tão prático e simples quanto: o tudo bom. Que facilita ainda mais nossos dias. Se alguém perguntar “tudo bom?” — substituindo o “como vai?” — eu já chego com um tudo bem na resposta. Aí fecha o ciclo.
E não esqueça que até nossos irmãos surdos, com um simples polegar para cima, já estão decretando um tudo bem. É simples, fácil.
Agora, por favor, não saia por aí reclamando da vida toda vez que alguém perguntar “como vai?”. Geralmente, as pessoas perguntam por educação, não para fazer uma análise profunda — muito menos para consolar você pelo preço da picanha. E o tudo bem responde por você: vida que segue.
Porque, convenhamos, se tivesse que explicar tudo, ninguém teria tempo para um simples “tudo bem”.
Luciano Fernandes
Enviado por Luciano Fernandes em 30/05/2025