Excelência, Sua Ficha Caiu
Uma autoridade de uma república no Caribe faleceu. Sim, eles também morrem — embora, pelos atos que cometem, pareça que acreditam ser eternos. Com certeza acham que, ao mostrar sua carteirinha, portas — e até portões — se abrirão. Esquecem que quem abre a porta é um porteiro que não é seu parça, cúmplice, e que não teme ameaças nem caras feias.
A partir desse momento, ele é igual a todos aqueles que, aqui na Terra, ele roubou, mentiu, prejudicou, iludiu. É apenas um ser humano. Como qualquer outro que existe neste mundo.
O choque de realidade é enorme. Na fila, aguardando a triagem, os olhares são como flechas perfurando sua alma. A vergonha começa a expulsar a soberba. Ninguém ali lhe dirige a palavra — nem com elogios, tampouco com ofensas. É só um Mané que acabou de perder a vida.
Quando sua ficha é chamada, ele caminha lentamente — quase como se quisesse adiar o encontro final. Ainda olha ao redor, na esperança de que algum conhecido lhe estenda a mão. Mas até os aliados viram o rosto, temendo complicar ainda mais a própria situação.
Postado diante de Pedro, ele se depara — depois de tantos anos — com o bem. Com alguém limpo, puro de sentimentos e atitudes.
Após a triagem, é convidado a assistir ao filme de sua vida. Já entra na sala suando, trêmulo, pois sabe bem que seus atos resultaram em mortes, fome, desemprego — e causaram depressão que levou muitos ao suicídio.
Encolhido na cadeira, torce para que aqueles episódios de conchavos sujos e rasteiros — dignos de mentes deformadas pela ganância — terminem logo. Suas lágrimas não mudam nada. E a sentença é dada:
— Filho, aqui não é o seu lugar. Você vai voltar e passar pelas provações que impôs aos seus irmãos. Vai sentir, no corpo e na alma, a dor, a angústia, o desespero... Fica com um conselho, meu filho: é apenas uma provação. Nada pessoal.
Luciano Fernandes
Enviado por Luciano Fernandes em 27/05/2025