Acho que seria uma boa compensação se existisse a possibilidade de comprar tempo. Isso mesmo, meu amigo e minha amiga leitora — já quiseram estocar vento, então negociar tempo seria bem mais simples.
Puxe sua cadeira preferida, assuma a postura de escutador de "causo", que lá vou eu.
Nos dias de hoje, as pessoas vivem reclamando da falta de tempo. As desculpas são sempre as mesmas: “não tive tempo”, “quando eu tiver um tempinho”, ou as mais elegantes: “vou consultar minha agenda”.
E onde o mercado do tempo entra nisso? Simples: a coisa que eu mais tenho na vida hoje é tempo.
Desde que me aposentei, esse recurso natural está em abundância — e eu resolvi colocar algumas horas à venda. Quero ver se, com essa atitude, eu saio do modo "câmera lenta".
Outro dia, ao atender uma ligação do meu filho me chamando para tomar um cafezinho, falei:
— Um instante.
Ao retornar, ele perguntou:
— O que foi?
E eu respondi:
— Fui consultar minha agenda.
Ele riu. Na hora percebeu que era piada.
Outra dica que passo para os colegas com tempo sobrando é: façam tudo devagar. Ir até a padaria da esquina não exige saber a hora que o pão sai quentinho. Ele sempre chega frio.
E pote de sorvete? Nem pensar. Só se você colocar dentro de um saco com gelo..
Meu carro, coitado, está querendo mudar de dono. Já aceita até o Rubinho Barrichello. As marchas quarta e quinta nem entram mais. Por falta de uso, criaram ferrugem — igual a... bom, melhor não mencionar.
O único dia que acordo mais animado, até ensaio um assobio, é o do pagamento da aposentadoria. Sim, aquela que eu contribuo com sei lá quem. Mas, ao contrário de mim, ela é rápida — desaparece num piscar de olhos. Que inveja.
E que saudade dos tempos em que distâncias eram vencidas num pulo, os passos eram largos, e a cabeça erguida caminhava firme, sem precisar vigiar os próprios pés. Quando saía um gol do meu time, eu gritava, pulava — e tudo isso no mesmo instante do lance.
Você pode até dizer:
— Calma, amigo, você está exagerando!
E eu te respondo:
— Claro! Se eu não exagerar, o texto acaba logo — e eu fico mais tempo ainda sem fazer nada...
Então, querido leitor do Caroço de Manga, leia esta crônica no seu tempo. E, se puder, deixe um comentário. Eu adoro ler — bem devagarinho, quase separando as sílabas.
Porque, pra viver e rir, eu não tenho pressa.