Com Licença, Vou Entrar em Pânico – Parte 1
Meu amigo, todos nós temos nossos medos e receios. Não adianta querer me convencer de que você só tem medo de criptonita, pois bem sei que você não é o Superman. E não estou falando daquelas manias de infância, como desvirar chinelo, evitar passar por baixo de escada ou fazer um pedido ao ver uma estrela cadente. Não. Não me refiro a essas bobagens que o tempo transforma em ternura, mas daquilo que marca fundo — que a gente leva pra vida.
Tenho dois medos que me acompanham até hoje. Um veio da infância, o outro chegou mais tarde, como quem bate à porta sem ser convidado. Prova de que medo não tem hora pra aparecer.
O primeiro, e talvez o mais enraizado, é o pavor de barata. Pode parecer ridículo um homem feito temer algo que uma chinela resolve — mas quem vive o medo sabe que lógica nenhuma dá conta. Aqui em casa, as especialistas em eliminar essas criaturas repugnantes são minha mulher e minha filha. A que estiver mais perto assume a missão. Eu? Eu busco refúgio no cômodo mais distante da cena do crime.
Quando minha filha era pequena e minha mulher trabalhava à noite numa loja do shopping, bastava o surgimento da Aquilo — sim, decidi que não vou mais escrever o nome — para que a rotina desandasse. Pegava minha filha no colo, saía de casa e ia pro shopping esperar até às 22h, hora da minha mulher sair. Só voltava quando tivesse a certeza de que Aquilo já tinha sido devidamente despachado pro além. Não, por hipótese alguma, eu dividia o teto com Aquilo. Tinha mais chances de me mudar permanentemente do que enfrentá-la.
O interessante é que meu medo passou para minha pet, a saudosa Julieta, que até ao ver o cadáver da terrorista também sumia do ambiente.
Aqui no Nordeste muita gente tinha um Buggy, e um dia eu estacionei o meu, que estava sem capota, e ao voltar tinha Aquilo voadora no meu assento. Tive que pedir ao flanelinha para dar uma lavagem geral no Buggy — a intenção não era simplesmente lavar, mas sumir com a intrusa. De longe acompanhei o trabalho do rapaz para me certificar que a penetra tinha saído.
Porém, existe caso em que a besta fera vem e não tem como escapar. Na minha juventude fiz um cursinho preparatório para o vestibular no horário da noite. Era uma sala ampla, tinha uns trinta e cinco alunos, e as janelas ficavam abertas. Logo no primeiro dia, ao estudar o ambiente, optei por sentar o mais afastado possível delas. Porém, naquele dia, fui tocado por Deus e por Aquilo. A aula rolando, e os primeiros gritos femininos ecoaram no ambiente. Quando levantei a cabeça, vi aquele mastodonte voando como uma aeronave em busca de um aeroporto. Concentrei minhas preces para que qualquer coisa acontecesse — um raio, terremoto, tsunami — mas, Pai Celestial, afasta de mim esse cálice.
Infelizmente, dentre os trinta e cinco alunos, o premiado fui eu. Agora, pasmem: Aquilo voadora veio e pousou no meu ombro e eu, para não passar vergonha, tirando forças sei lá de onde, simplesmente, com um leve balanço de mão, botei pra correr a representante do coisa ruim. Mais na frente, ela encontrou o seu destino embaixo da sola do sapato de Júlio.
Bem, meu amigo — e minha amiga leitora —, você pode perguntar: "E agora? Por que não tem a mesma atitude?"
Todas as vezes em que sou indagado por alguém da minha casa, saio com essa conversa:
— Que dia é hoje?
— Segunda... mas o que tem a ver? — pergunta minha mulher.
— Não posso matar nenhum ser nesse dia. É contra a minha religião.
Pronto. Problema resolvido. E ainda fica a deixa para o amigo que também tem pavor de Aquilo, mas não tem coragem de admitir. Leve no humor, transforme, ridicularize Aquilo, pra ela ver que o homem da casa é você — e que ela só está viva por força da sua religião.
Ah... o segundo medo vem na Parte 2, só lendo para conferir.
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Luciano Fernandes
Enviado por Luciano Fernandes em 21/05/2025
Alterado em 21/05/2025