TRABALHADORES DO BRASIL, BRASILEIROS E BRASILEIRAS E APOSENTADOS SAQUEADOS
Dia 1º de maio. Dia daquele que já iniciou discurso e também já foi motivo de discurso. E hoje será comemorado como deve ser.
Vou comemorar com um baita churrasco: picanha suculenta, costelinha de porco no ponto, calabresa estalando, provolone derretendo, pão de alho crocante na brasa, coração de frango no ponto certo — tudo nos conformes, com os acompanhamentos que esse banquete exige.
Chamei até um churrasqueiro. Já não tenho mais estrutura pra ficar no pé da churrasqueira defumando meus ovos — ou o que sobrou deles.
Cerveja Heineken trincando de gelada e refrigerante à vontade, é só pegar no open bar do Luciano, tudo sem miséria. Afinal, não sou apenas um trabalhador — sou um ex-trabalhador. Já suei muito pra empurrar esse país pra frente, achando que o futuro era logo ali, dobrando a esquina. O futuro, coitado, parado num ponto de ônibus, esperando a gente chegar.
Nesta minha confraternização laboral, estarei entre amigos — gente sincera, honesta, sonhadora como eu (ou quase). A trilha sonora? Eu que escolho. Nada de pagode de churrasco, nem funk com coreografia de agachamento pélvico. E muito menos aqueles artistas “recebedores da Rouanet” ou intérpretes de sofrência gourmet. É uma homenagem aos trabalhadores, ora bolas.
Tudo organizado: pratos, talheres, copos (de vidro, nada de requeijão reciclado). E eu já pronto pra dar o pontapé inicial quando...
— Acorda, homem! — grita minha mulher.
Meu Deus, era um sonho. Um devaneio patriótico em forma de churrasco. Volto à realidade do aposentado saqueado, e agradeço aos céus pela minha gostosa macarronada.
O Brasil, que um dia foi o país do futuro, virou mesmo o país do já teve.
Luciano Fernandes
Enviado por Luciano Fernandes em 01/05/2025