— É inacreditável, Luciano — falou minha mãe com o papel nas mãos.
— Você só conseguia passar por média em religião. É o “o do borogodó”! — (na época tinha essa pérola).
Parabéns, mas acho que você não tem essa vocação religiosa toda pra ser padre.
Aliás, isso se repetia em todo final de ano letivo. Meu boletim me entregava, de bandeja, desmentindo todas as minhas previsões otimistas:
— Beleza, muito boa. Acho que dá pra tirar um 8... ou 8,5.
Eram minhas respostas sempre que havia uma avaliação no colégio.
Acho que no início de cada novo período os professores faziam apostas sobre em quantas matérias eu ia ficar em recuperação.
— E esse ano, o que você acha, professor Cícero?
— Acho que esse ano vai dar Luciano novamente. Posso até marcar: passa só em religião.
— Provavelmente não. Ninguém é tão burro a ponto de ficar em educação física — respondia o professor Magno.
— Gente, vamos respeitar o aluno. Ele fica em tudo, paga a mensalidade direitinho, mas passa na recuperação — dizia o Irmão Wellington, tentando amenizar a situação num ato de fé, pois estávamos sob os olhares de São Marcelino Champagnat, fundador da ordem Marista e, eu acho, defensor fervoroso da recuperação.
E era exatamente isso que eu fazia. Tirava o ano tranquilamente, e na recuperação eu agradecia a Champagnat e mostrava que, estudando por duas semanas, eu passava.
Enquanto eles... bem, eles passaram o ano todo.
A única coisa que eu esqueci foi que, pra entrar na faculdade, existia o temível vestibular.
E nele, não sei por quê, não adotaram um sistema tipo recuperação.
Então fiz o vestibular três vezes, mas sempre com a esperança de que um dia o MEC implantasse a prova de segunda chamada. Ou que Champagnat intercedesse.
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