Ou Vai Ou a Cerca Cai: Crônicas com Humor
Textos que derrubam cercas e arrancam risos e reflexões.
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Textos
Acreditar é um ato de fé (ou de fome)
E eu acreditei, me falou o Targino com os olhos rasos d’água. Aquilo apertou meu coração de ver um amigo de tantos anos completamente sem rumo. Mas pude observar, e falei pra ele:
— Você não está sem norte. Você foi desnorteado.
Nós que tivemos uma formação católica, veja bem… Eu e Targino somos ex-alunos Maristas, daqueles que, durante todo o mês de maio, ia pra capela do colégio cantar:
— “Nesse dia, ó Maria, nós te damos nosso amor…”
Como não íamos acreditar num presidente? Confesso que eu não confiava muito. Alguém tinha dito que ele ia voltar à cena do crime, mas com um apelido de chuchu... e aí, minha gente, fica difícil. Perde a credibilidade igual ao sabor do próprio fruto.
Mas achar que vai acabar com uma guerra com uma cervejinha? Aí é demais. Principalmente se ele nem sabe se os envolvidos bebem. Julga os outros por ele mesmo.
A imagem que vem na minha mente é hilária: uma cidade semi destruída, uma mesa de bar no meio de crateras de bombas, um engradado de cerveja e três bêbados discutindo. Antes da última garrafa, os três abraçados, chorando e dizendo:
— “Você é mesmo que um irmão…”
No outro dia, depois da larica, bomba de novo. Porque fuzuê de bêbado e suas palavras não têm valor.
Mas veja bem… esse episódio da cerveja nem foi o que mais abalou o Targino. O que fez um estrago mesmo, colossal, foi a promessa da picanha.
Quando ouviu a promessa, ele foi direto pra Leroy Merlin. Adquiriu uma churrasqueira digna de assar qualquer peça de carne premium. Aquela antiga, com roda de carro e ferrugem de estimação, não tinha mais porte pra uma picanha presidencial.
Hoje, esse maravilhoso equipamento gastronômico está guardado. Vai entrar numa rifa que eu e Targino vamos rodar pra conseguir comprar uma caixa de ovos e, se sobrar, um pacote de café.
Não quero nem lembrar da mala de viagem que a Arlete, esposa do Targino, comprou para as futuras viagens de avião que ela, finalmente, ia realizar.
— Já pensou, amor? Nós no avião rumo a Teresina. Vou logo avisando que vou na janelinha, igual ao Romário — disse a esperançosa Arlete.
— Sei não... os aeroportos vão estar lotados. Deve ser uma muvuca danada, pior do que a rodoviária do Crato.
E o casal seguia fazendo planos, cometendo o único erro imperdoável: acreditar no homem.
Puros, inocentes, coração sem maldade. Esse era o casal Targino e Arlete.
Mas não parou por aí: escândalos começaram a pipocar, e o Targino, incrédulo:
— Meu Deus, esse homem é inocente. O Bonner falou que ele não deve nada. Como podem fazer isso com ele? Estão usando da inocência dele pra roubar. Aposto que ele não tem nem ideia do que está acontecendo no país. Ele e os ministros. Acho que só a esposa dele sabe das coisas…
— Essa não! A que morreu…
Essa é aquela pá de areia que vai finalizar a vida política desse pai dos pobres — que faz de tudo para deixá-los mais pobres, pois sem eles, sua existência chega ao fim.
Diz que na próxima eleição ele vai de novo, mas agora só vota se o candidato garantir uma feijoada completa (com laranja e couve refogada), sobremesa, fiado no armazém e passe livre na Viação Cometa.


Luciano Fernandes
Enviado por Luciano Fernandes em 26/04/2025
Alterado em 26/04/2025
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