O Santo Padre e a Confusão: Relato de Um Velório Nada Santo
Meu amigo, estou chegando agora de Roma.
Fui até o Vaticano para o velório do Papa. Fiquei na Praça São Pedro, bem próximo a um vendedor de churrasquinho. Confesso: era uma posição privilegiada, a poucos passos de um gentil senhor que vendia cerveja.
O único tumulto que vi foi entre flanelinhas brigando pelo espaço, mas logo chegaram a um acordo: dividiram a praça entre si, organizados como uma guarda de honra para proteger a vaga do coleguinha.
A programação foi intensa. Desde a passagem do Bispo de Roma para... sei lá onde — uns dizem que foi para o andar superior, outros juram que, por castigo, seguiu direto para Washington. Uma coisa é certa: para o Brasil ele não veio. Não ia caber no avião da comitiva, que já estava lotado, e, além disso, o Itamaraty confirmou (com selo da Globo e tudo) que, no nosso país, já temos um santo. Ou melhor: um Deus, afinal, ele é ou não é brasileiro? Não venha me dizer, a essa altura da minha vida, que Deus não é brasileiro. Basta a decepção que tive com o Coelhinho da Páscoa e com o Papai Noel.
No velório, reservaram um horário específico para a comitiva brasileira visitar o corpo. Era tanto brasileiro que só sobrava espaço para eles... e para o defunto. O Papa, ali deitado, teve a rara oportunidade de ver o presidente ajoelhar-se pela primeira vez na vida — e o receio de que Dilma resolvesse dar algumas palavras em sua homenagem.
Fiquei pensando: e se um dia o Brasil tivesse um Papa? E se, ao falecer, resolvessem trazer o corpo para cá?
A cena seria previsível: desfile em carro de bombeiro, povo chorando nas avenidas, políticos disputando espaço para uma selfie do lado do caixão. Naturalmente, a causa da morte seria atribuída a Bolsonaro — afinal, quem mais? Adélio? Ora, claro que não.
Os cardeais da oposição pediriam uma CPI para investigar o Banco do Vaticano, enquanto os religiosos da situação agitariam cartazes com slogans do tipo "Quem matou o Papa?" ou "O Papa Vive!". O mais interessante: qualquer um que tenha rezado um Pai-Nosso nos últimos oito anos seria chamado para depor.
E assim, com o nevoeiro político mais denso do que nunca, nós, pobres mortais, ficaríamos distraídos — enquanto órgãos públicos continuam, sem a menor cerimônia, a subtrair valores dos aposentados. Por enquanto seguimos torcendo para que o novo Papa não seja o Papa-Léguas. Porque, sinceramente, meu amigo... correr, a gente já corre demais.
________________________________________
Se você gostou dessa viagem sem escalas pela Praça São Pedro (com churrasquinho e tudo), dá uma passada lá no meu Apoia.se e me ajude a continuar escrevendo essas maluquices:
👉 apoia.se/lucianofernandes
Com o seu apoio, garanto que o próximo velório será ainda mais animado
Luciano Fernandes
Enviado por Luciano Fernandes em 26/04/2025
Alterado em 26/04/2025