Epopeia da Balada
Estava pensando na diferença entre homens e mulheres na preparação para uma balada. O que, para nós, é um simples ato, para elas é uma verdadeira epopeia, cheia de planejamento, cronogramas e, claro, intermináveis trocas de mensagens entre as amigas.
Nossa história começa no sábado, dia do evento, por volta das 16h, em um bar de qualidade duvidosa, onde seis amigos bebem tranquilamente. Entre um gole e outro, acertam os detalhes da noitada, incluindo o itinerário com menor probabilidade de blitz.
Agora, vamos voltar no tempo.
Quarta-feira – Três dias antes do evento
Por volta das 10h da manhã, após a academia, Stela inicia sua busca por brincos que combinem com a bolsa e a maquiagem que pretende usar no sábado – noite em que, espera ela, encontrará seu príncipe encantado, como já esperou outras 347 vezes.
Na verdade, a compra do acessório não foi ideia dela. Silvia, sua fiel escudeira das baladas, sugeriu após analisar pacientemente onze fotos de brincos pendurados nas orelhas de Stela, enviadas ao grupo no WhatsApp. Depois de longos minutos de reflexão, Silvia sentencia:
— Miga, talvez um mais rosê gold caia melhor.
E, para aumentar ainda mais a confusão da amiga, solta:
— É… mas tudo vai depender da maquiagem. Você já decidiu?
Pronto. O pânico se instala. Agora, Stela está cercada por brincos, colares, pulseiras, rasteirinhas e vestidos espalhados pela cama, que mais parece uma banca de camelô. No meio da bagunça, há cílios postiços nos tamanhos P, M, G e GG e uma infinidade de maquiagens – exceto, claro, aquela sugerida por Silvia, que, de uma hora para outra, virou personal stylist.
Quando Stela finalmente respira e vai agradecer à amiga pela consultoria, recebe uma nova mensagem:
— Stelinha, só agora lembrei que tia Margô chegou ontem dos EUA e trouxe maquiagens incríveis! Quer dar uma olhada?
A euforia foi tamanha que nem os 98 km de distância foram suficientes para fazê-la hesitar.
Enquanto isso, no grupo dos rapazes, nenhuma atividade foi detectada.
Quinta-feira – Dois dias antes do evento
Por volta das 14h, Stela, Silvia e Carolina partem para o Shopping Cidade Jardim. A missão? Encontrar uma peça exclusiva que as diferencie da concorrência e, quem sabe, lhes garanta prioridade na fila das pretendentes ao prêmio da noite: um namorado decente.
Veste a blusa, tira foto, manda para a prima de Boston, recebe opinião, tira a blusa, tenta outra, repete o processo. Afinal, um detalhe na gola pode mudar o destino da noite! Como se algum homem fosse notar isso entre um gole de cerveja e outro.
Esse ritual se arrasta até as 20h, quando Silvia finalmente detecta algo realmente importante:
— Gente, tô morrendo de fome!
E assim termina mais um dia de intensa preparação.
No grupo masculino, um marco histórico: um dos rapazes finalmente dá o primeiro passo para o grande evento. Coloca para lavar a calça jeans.
Sexta-feira – Um dia antes do evento
Pouco depois das 9h, as três amigas partem empolgadas para uma clínica de estética. Lá, passam por uma sequência de tratamentos que fariam um carro sair da oficina com brilho de zero quilômetro.
No meio do processo, Stela se vê diante de um dilema existencial:
— Acho que vou cortar uns dois dedos do cabelo.
Silvia reage horrorizada:
— Miga, você não tá nem louca! Seu cabelo tá lindo! No máximo, um dedo.
Para piorar a indecisão de Stela, Carolina lança:
— Mas você não queria fazer mechas?
Pronto. A confusão mental está instaurada. Puxa um fio dourado ou radicaliza no laranja Trump?
Depois de muito sofrimento, decide por mechas douradas.
Em seguida, vem a maratona: cabelo, sobrancelha, depilação, hidratação, unhas, massagem, banho com pétalas de rosas, pepinos nos olhos para "tirar manchas de olheiras que não existem".
No caminho de casa, uma triste constatação:
— E aquela peça especial, hein? Vai que role…
A rota é ajustada e, vinte minutos depois, lá estão elas no shopping novamente. Mas, claro, não é só entrar e comprar.
— Dessa cor eu já tenho.
— Essa florzinha me lembra a minha tia.
— Essa aqui é muito discreta.
— Essa… não dá!
— Gostei dessa com aroma de damasco!
Enquanto isso, no time masculino, Joaquim Filipe passa no barbeiro. O restante segue inerte.
Sábado – O dia "D"
Pela manhã, as garotas fazem ensaios de poses e postam no Instagram frases motivacionais do tipo: "Me aguarde…", "A noite me espera", sempre acompanhadas de bocas e olhares sedutores.
Às 10h, no grupo dos homens, surge a primeira (e última) mensagem do dia:
— Prévia às 20h no Bardallus. Ok?
As respostas chegam com a empolgação de um velório: "Tamo junto", "TJ".
Pronto. Organização concluída.
Na hora marcada, apenas quatro dos seis aparecem. Os outros dois foram para uma festinha onde "os prazeres da carne" seriam mais garantidos.
Enquanto isso, Stela e suas amigas entram em pânico. A maquiadora está DOZE minutos atrasada. Esperada com a ansiedade de um pagamento de aposentadoria, sua chegada é o passaporte para uma noite gloriosa.
Às 23h, a última das três finalmente sai do "estaleiro". São agora deusas imponentes, reluzentes da cabeça aos pés, e com um limite no cartão de crédito que as deixa mais confiantes do que qualquer fitinha do Senhor do Bonfim.
No Bardallus, os rapazes seguem bebendo e conversando, sem grandes expectativas. Afinal, para eles, qualquer coisa que aconteça é lucro.
Já as garotas têm uma lista mental de exigências – que, conforme a noite avança, vai sendo reduzida drasticamente. No final, o que importa mesmo é a diversão. E, claro, juram que na próxima semana, enfim, encontrarão o homem ideal.
Será?
Luciano Fernandes
Enviado por Luciano Fernandes em 06/04/2025